26/11/2009

Fui à Tunisia!!! Mas pouco tempo....

Depois de várias tentativas e através da melhor invenção deste século, a internet, facilmente consegui sair da Argélia, cruzar a Tunísia, apanhar um barco e chegar à ponta mais extrema de uma ilha mediterrânica no sudeste tunisino, a Ilha de Djerba..
Demoramos cerca de 07 horas, mas podia ter demorado menos não fosse a eficiente duane argelina ou estarmos na altura mais difícil do ano para o mundo árabe - o Ramadão.. Espero algumas horas sentado num banco de madeira antigo para que me carimbem o passaporte e confiram os documentos, enquanto constato que têm passado por aqui inúmeras excursões de europeus a avaliar pelos autocolantes de empresas ou grupos que estão nas paredes gastas do edifício.

Lá passamos a fronteira e fomos até Tozeur onde estaria o nosso Ford Fiesta à espera para seguirmos estrada fora até Gabes na costa Tunisina. A parte inicial da estrada é a mais impressionante e a razão principal que me fez escrever alguma coisa sobre interior tunisino. Começa no oásis em Tozeur e termina em Nagga. É uma recta sempre igual sem absolutamente nada à volta, excepto, sal. Sim, são mesmo 110 km em que a única coisa que vejo é sal. A pouca água do lago Chott El Jerid evapora e a secura deixa transparecer a esbranquiçado sal tornando o visual único e inóspito. Está tudo branco. É uma planície totalmente plana e tão grande que parece que pousaram um espelho baço sobre a terra. Parece até que céu está mais perto ou flutua. Distingo a linha do horizonte porque as nuvens parecem estar pousadas no fundo. O visual é espantoso, tem a cor de leite, e tenho a sorte de passar nesta zona às horas que o sol se estar a pôr. A teoria de origem de todo este sal é a mesma que se aplica aos Salares na Bolívia ou no Chile, por exemplo, o Salar de Atacama. Neste caso, o oceano que aqui existiu posteriormente sumiu, foi o mediterrâneo, deixando apenas o salitre, e o panorama excepcional de um lago situado a 16 metros abaixo do nível do mar.
As cores que se formam, a forma harmónica que as nuvens baixas têm, a profundidade do campo de visão e os reflexos provocados pelo branco salgado, logo me fizeram explorar as várias opções manuais da minha nova máquina fotográfica que finalmente, comprei.

A viagem continuou sem problemas até Gabes cruzando populações um pouco mais limpas e evoluídas que as argelinas e, quando menos se espera, em nenhures, observo transformadores da EFACEC.

Após atravessar o ferryboat para a Ilha de Djerba, era tempo de procurar La Fidele, o Club Med que optei escolher para passar o fim-de-semana.
Do fim de semana nada posso adiantar que vos interesse. Não estava no Magreb. Definitivamente estava na Europa, mais propriamente em França, na Suiça ou na Bélgica. Escolhi o melhor local que poderia ter escolhido em toda a ilha para descomprimir. La Fidele é conhecido por atrair jovens europeus e sua animação. A praia é boa, a água do mar é quente, e o ambiente é interessante. Confirmo, e recomendo! A quantidade de gente bonita que vi, fez me perceber os milhões que o estado tunisino tem investido no seu turismo, são valiosos e merecidos. Mais um local por explorar! Aconselho.

O regresso foi normal excepto aquela cáfila de dromedários que vagarosamente passava na estrada. Às 19.00h é que é as coisas se tornam mais complicadas. Esta é a hora que o mundo muçulmano pára, pois é tempo de se sentar à mesa. Para quem não sabe, no Ramadão enquanto houver luz do dia não se pode comer, fumar, beber, nada! Só mesmo respirar. Passei praticamente o Ramadão todo aqui, e desde já adianto, que é uma experiência, no mínimo, diferente. Toda a rotina do país é alterada em função da alimentação, da reza e da lua. Todos os serviços abrem e fecham a horas estranhas e às 04.00h a cidade já tem movimento de hora de ponta, enquanto por exemplo, às 14.00h, não se vê uma alma viva na rua. Tem a duração de um mês e só termina assim que a lua nova o determinar, nunca se sabendo o dia exacto. E quem decide? Existem uns observadores de lua que o decidem anunciando publicamente o dia, começando assim a festa durante dois dias seguidos. O país fica doido.

Nesta viagem de regresso da Tunísia, chego à fronteira tunisina foi às 18.50h. Com a fome a apertar, os policiais tunisinos despacharam tudo em 10 minutos enquanto na fronteira argelina chegamos precisamente na hora de “manger”. Garanto-vos que nossa presença ali era inexistente aos olhos deles. Senti-me um camaleão. A esta hora não vale a pena. Temos que esperar seja para que o for. O nosso chaffeur, mal a luz do dia começa a dissipar, come duas bananas em 10 segundos com uma vontade tal que me deixou espantado para não dizer enojado.
De resto, a viagem continuou até El Oued sem problemas, com aquela musica árabe aos berros.
Poderia falar de muitos episódios que fui tendo durante o Ramadão, mas ficará para uma próxima.
Para já só queria deixar escrito que, finalmente consegui ir à Tunísia!

2 comentários:

  1. Não resisto: então uma planície totalmente plana? Será que existem planícies assim assim planas, ou talvez um pouco ... onduladas, como as ondas em que fazes surf? Ai ai, que liberdade criativa é esta querido Luís? Que estará dentro da cabeça do viajante? Só ele sabe!!
    _________________________

    Mas hoje não quero comentar mais as tuas descrições. Vou antes partilhar contigo uma poesia que li hoje, de Alexandre O´Neill (1924-1986)
    Você tem-me
    cavalgado,
    seu safado!
    Você tem-me
    cavalgado,
    mas nem por
    isso me pôs
    a pensar
    como você.

    Que uma coisa
    pensa o cavalo;
    outra quem está
    a montá-lo.

    E com esta me vou. Espero que estejas bem.
    Beijos. Graça

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  2. Até que enfim voltaste a dar notícias! Já tínhamos saudades!...
    Mas… e então? Aonde estão as fotos? Desta vez os teus relatos não vêm acompanhados de fotografias!?!...
    Beijinhos
    AF

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