Ainda não é desta que vou escrever sobre o meu trabalho. A maior parte das vezes escrevo precisamente para relaxar do trabalho e desligar. Mas fica prometido.
Desta vez escrevo porque viajei mais para sul, para as profundezas do deserto do Sahara e descobri que afinal El Oued não espelha a cultura tradicional Sahariana. Descobri que El Oued é uma cidade sem personalidade. Não é como Argel - que é feio, desorganizado e quer imitar uma cidade europeia, nem é como os locais do sul do Sahara representativos de como há muitos lugares onde o desenvolvimento ainda não chegou, da ancestralidade rural e tradicional desta zona.
Viajei de carro durante umas 6 horas até uma zona chamada Ghardaia.
Pelo caminho passei pelas diversas paisagens emblemáticas da zona - areia vermelha, areia amarela, terra, planícies gigantescas e cidades perdidas no seu tempo. Foram horas sem ver uma alma viva e de ar condicionado ligado.
Ao fim de algumas horas de percorrer a mesma estrada começamos a avistar as primeiras indicações que nos estamos a aproximar de Berriane. É a primeira grande vila que conheço este fim de semana e deixou-me ligeiramente desconfortável e até um pouco sobressaltado. À entrada da cidade somos recebidos por inúmeras barreiras policiais, desta vez policia de choque armados do pés à cabeça. São muitos. Parecem sentinelas, e vigiam atentamente a cidade. O clima não é muito confortável para um loirinho com ar de europeu. Cheira a guerra e o ambiente está tenso. Somos obrigados a diminuir a velocidade, e somos observados. A cidade, totalmente rústica e tradicional é confusa, com muita gente na rua misturada com as forças policiais. Entretanto contam-me que existem conflitos étnicos muito sérios nesta zona, e percebo o porquê deste exagero de segurança.
O Akli, nosso colega, pára o carro para ir visitar uma amiga, e eu decido sair e dar uma volta sob o olhar atento dos nativos e dos policias. Num dado momento estes vêm ter connosco de arma em punho. Primeiro tentam comunicar e depois confiscar a nossa máquina fotográfica explicando que a lei proíbe de tirar fotos em locais como este, principalmente a eles própios. Fazem uma revisão das fotos já tiradas e mais uma vez a simpatia dos portugueses, o Madjer e o Cristiano Ronaldo, por vezes sacam sorrisos salvadores.
Ghardaia e Beni Isguen, são cidades situadas no conhecido Vale do M´Zab, Património Mundial, com linguagem própria, o Tumzabt, e com uma derivação mais acentuada do islamismo. A região tem mais de mil anos, as mesquitas são construídas de areia e terra e ainda se mantém complemente intactas. Pela primeira vez na Argélia não noto vestígios da colonização francesa. Parece que entrei noutro mundo. Na rua reparo que todas as mulheres vestidas de branco da cabeça às pés têm um só olho à vista (a Haik) e homens usam roupas estranhas como calças tipo Aladino e toucas pousadas na nuca. Estes só permitem que elas olhem através de um olho depois de casar. Imagino que não haja muitas conversas do género– “ Ontem vi a tua mãe no centro!”. Estão todas de branco e são indistinguíveis.
A cidade, localizada no Vale do M´Zab, é totalmente rústica, e esta sim com personalidade, uma arquitectura e organização urbanística totalmente diferente do que vi até hoje não só na Argélia como em outros locais. Tudo é construído com areia, é castanho e amarelado, há muito artesanato, e as ruas e ruelas são autênticos labirintos sombrios e estreitos que no passado serviam para confundir os invasores. As próprias mesquitas situadas nos topos das montanhas e que serviam de vigia e pontos de ataque, são de dificil acesso. Inclusivé aconselham um guia, mas acho exagero.
O artesenato e agricultura são as principais fontes de rendimento das numerosas familias e o centro retrata isso mesmo. É dia de feira, logo, a confusão habitual onde se nota que já estou mais próximo da verdadeira Àfrica. Há muitos negros e estranho vê-los a viver como muçulmanos!
Comi a comida típica do local, bebi o famoso chá, deu um passeiozeco, e jurei comprar uma máquina fotográfica de jeito. Teria tido grandes fotografias neste inóspito local.
Poderia estar aqui a contar inúmeras coisas sobre esta zona, mas também não quero cair no erro de ser um LonelyPlanet.
Posso apenas dizer que pela primeira vez aconselho a virem cá e conhecerem esta zona. Já conheci o Deserto da Atacama chileno, e se tivesse que escolher, seria este! Não por ser melhor ou pior, mas pelo impacto da diferença cultural que se sente.
Deixo assim aqui o roteiro deste mês.
Optei por nem referir que fui a Argel de tão feio que é – Só valeu a pena porque vi mulheres destapadas, normais para mim, diga-se muito bonitas, e comi em bons restaurantes.
SALAMALEMKOM!
Desta vez escrevo porque viajei mais para sul, para as profundezas do deserto do Sahara e descobri que afinal El Oued não espelha a cultura tradicional Sahariana. Descobri que El Oued é uma cidade sem personalidade. Não é como Argel - que é feio, desorganizado e quer imitar uma cidade europeia, nem é como os locais do sul do Sahara representativos de como há muitos lugares onde o desenvolvimento ainda não chegou, da ancestralidade rural e tradicional desta zona.
Viajei de carro durante umas 6 horas até uma zona chamada Ghardaia.
Pelo caminho passei pelas diversas paisagens emblemáticas da zona - areia vermelha, areia amarela, terra, planícies gigantescas e cidades perdidas no seu tempo. Foram horas sem ver uma alma viva e de ar condicionado ligado.
Ao fim de algumas horas de percorrer a mesma estrada começamos a avistar as primeiras indicações que nos estamos a aproximar de Berriane. É a primeira grande vila que conheço este fim de semana e deixou-me ligeiramente desconfortável e até um pouco sobressaltado. À entrada da cidade somos recebidos por inúmeras barreiras policiais, desta vez policia de choque armados do pés à cabeça. São muitos. Parecem sentinelas, e vigiam atentamente a cidade. O clima não é muito confortável para um loirinho com ar de europeu. Cheira a guerra e o ambiente está tenso. Somos obrigados a diminuir a velocidade, e somos observados. A cidade, totalmente rústica e tradicional é confusa, com muita gente na rua misturada com as forças policiais. Entretanto contam-me que existem conflitos étnicos muito sérios nesta zona, e percebo o porquê deste exagero de segurança.
O Akli, nosso colega, pára o carro para ir visitar uma amiga, e eu decido sair e dar uma volta sob o olhar atento dos nativos e dos policias. Num dado momento estes vêm ter connosco de arma em punho. Primeiro tentam comunicar e depois confiscar a nossa máquina fotográfica explicando que a lei proíbe de tirar fotos em locais como este, principalmente a eles própios. Fazem uma revisão das fotos já tiradas e mais uma vez a simpatia dos portugueses, o Madjer e o Cristiano Ronaldo, por vezes sacam sorrisos salvadores.
Ghardaia e Beni Isguen, são cidades situadas no conhecido Vale do M´Zab, Património Mundial, com linguagem própria, o Tumzabt, e com uma derivação mais acentuada do islamismo. A região tem mais de mil anos, as mesquitas são construídas de areia e terra e ainda se mantém complemente intactas. Pela primeira vez na Argélia não noto vestígios da colonização francesa. Parece que entrei noutro mundo. Na rua reparo que todas as mulheres vestidas de branco da cabeça às pés têm um só olho à vista (a Haik) e homens usam roupas estranhas como calças tipo Aladino e toucas pousadas na nuca. Estes só permitem que elas olhem através de um olho depois de casar. Imagino que não haja muitas conversas do género– “ Ontem vi a tua mãe no centro!”. Estão todas de branco e são indistinguíveis.
A cidade, localizada no Vale do M´Zab, é totalmente rústica, e esta sim com personalidade, uma arquitectura e organização urbanística totalmente diferente do que vi até hoje não só na Argélia como em outros locais. Tudo é construído com areia, é castanho e amarelado, há muito artesanato, e as ruas e ruelas são autênticos labirintos sombrios e estreitos que no passado serviam para confundir os invasores. As próprias mesquitas situadas nos topos das montanhas e que serviam de vigia e pontos de ataque, são de dificil acesso. Inclusivé aconselham um guia, mas acho exagero.
O artesenato e agricultura são as principais fontes de rendimento das numerosas familias e o centro retrata isso mesmo. É dia de feira, logo, a confusão habitual onde se nota que já estou mais próximo da verdadeira Àfrica. Há muitos negros e estranho vê-los a viver como muçulmanos!
Comi a comida típica do local, bebi o famoso chá, deu um passeiozeco, e jurei comprar uma máquina fotográfica de jeito. Teria tido grandes fotografias neste inóspito local.
Poderia estar aqui a contar inúmeras coisas sobre esta zona, mas também não quero cair no erro de ser um LonelyPlanet.
Posso apenas dizer que pela primeira vez aconselho a virem cá e conhecerem esta zona. Já conheci o Deserto da Atacama chileno, e se tivesse que escolher, seria este! Não por ser melhor ou pior, mas pelo impacto da diferença cultural que se sente.
Deixo assim aqui o roteiro deste mês.
Optei por nem referir que fui a Argel de tão feio que é – Só valeu a pena porque vi mulheres destapadas, normais para mim, diga-se muito bonitas, e comi em bons restaurantes.
SALAMALEMKOM!