25/03/2009

Mulheres

Passado o choque inicial, começo-me a habituar a viver aqui. Começo a perceber que todo o ser humano adapta-se a qualquer tipo de condições, e sei que existem bem piores, excepto uma mulher. Incomoda-me cada vez mais o estatuto social delas. É claramente inferior. Algumas são maltratadas, vivem amedrontadas, têm receio de que o véu lhes caia, não saem de casa a não ser para trabalhar, estão proibidas de conviver em qualquer espaço público, não têm quase opinião.
Enquanto estou num pequeno restaurante que eles chamam de “fast food”, entra uma mulher que simplesmente pede um copo de água ou uma moeda. O dono, que se situa à porta faz sinal ao empregado para lhe servir. Vocês não imaginam o esforço que a mulher fez para beber um simples copo de água. Tem daqueles véus constituído por duas peças. A peça que tapa a cabeça e a peça que tapa o rosto. Só se vem os olhos. Para beber não pode tirar véu - Põe o copo debaixo do véu, inclina-se para trás e satisfaz a sua sede entornando metade da água, mas “contente” porque não tirou a burka e enquanto os restantes clientes continuam as suas conversas. Eu fico estupefacto, eles não.
Existem outros tipo de véus. Aqueles que são um lençol gigante que tapa tudo. Tudo sem excepção. Nestes casos elas só estão com um dos olhos à vista. Não estou a exagerar. De todo o corpo, só se vê um olho, e mal!
Sei que existem sociedades muçulmanas em que as mulheres vivem uma vida normal sem este exagero, e dentro dos limites, bem. Mas aqui não me parece. Tenho amigos cubanos trabalham num hospital de ginecologia, onde muitas mães aparecem grávidas. Estas vêm de outras cidades porque engravidaram sem casar. Isto é um escândalo. Caso se saiba na terra delas, são enxovalhadas e retiram-lhes o filho optando por ir para outra cidade. Isto acontece, contaram-me eles que vivem aqui há dois anos, e sabem melhor que eu este tipo de coisas.

Por isso, minhas queridas mulheres portuguesas que tanta falta me fazem aqui, não se queixem!
Adoro-vos!

Nota: Não quero com isto causar incómodos, pois sabem que a maior parte, casadas, vivem uma vida considerada normal com a sua familia, nas suas casas, à maneira deles e tranquilamente.

21/03/2009

Algumas fotos














































12/03/2009

Tugas Cubanos e moscas

Faço a minha vida na obra. Admito que “brincar às obras” traz alguma satisfação profissional apesar de todos os problemas que envolve, que são muitos! Depois de todo o trabalho logístico, de planeamento e projecto, começar a ver as coisas a nascer no meio do deserto satisfaz-me apesar de continuar a preferir estar na praia e ganhar o euro-milhões. Para quem não sabe são 3 ETARs que estão a ser feitas, as quais estão integradas num projecto nacional argelino para recuperar os niveis freáticos do deserto do Sahara. Apesar de todos os entraves que vão acontecendo e das dificuldades para conseguir alguma coisa que funcione, já tenho internet no estaleiro. Tivemos que encomendar um satélite.

Almoçar aqui no contentor refeitório tem várias particularidades. Não tenho se quer opção. Come-se o que nos dão e entendendo o lema – “Primeiro come-se, e depois vê-se se gosta”.Num raio de 40 km não há onde comer, e mesmo que houvesse, as condições de higiene faziam com que a ASAE (se aqui existisse) entrasse em colapso.
Para além do sabor ser sempre o mesmo, existe a companhia das moscas. Estas obrigam a que cada vez que levo o garfo à boca, tenha que ter cuidado para evitar que alguma dessas amigas esteja lá pousada. Um braço é para o garfo, outro é para afastar as moscas, tornando o refeitório extremamente cómico, como se toda a gente fosse maestro por uma hora.
Hoje por exemplo não há moscas. Hoje há vento, muito vento, que nem elas sobrevivem. Tanto, que a areia levantada cobre o céu e penetra por todos os pontos do nosso corpo. Trabalhar na obra, só com óculos, a maior parte deles de neve. Quando chove, chove lama. A areia no ar agarra-se à chuva. Ficar lá fora é praticamente impossível, não se vê nada, como se fosse um dia de nevoeiro intenso.

Fico espantado que o dia de mais vento, de menos moscas, é o dia de mais portugueses. Para além de nós que estamos cá a trabalhar, apareceram mais 5 Portugueses, que viajam de mota desde Portugal. Já atravessaram a Europa, a Tunísia e vieram agora a Argélia. Penso que também quero fazer algo assim parecido, e depois penso que não sei andar mota.
Pessoal de Lisboa que veio quebrar a rotina de mais um almoço, desta vez sem moscas. Estupefactos, dizem mais uma vez, que os Portugueses estão em todo o lado, e partem novamente para o sul da Tunísia!

À medida que se vai fazendo a vida por aqui, vamos conhecendo os cantos à casa. Conheço quem me arranje camelos para ir passear, a mesma pessoa que diz que se quiser me leva às maiores dunas do sudeste do deserto onde se passará a noite a comer carne de camelo grelhada,e a contemplar um por-do-sol espetacular. Nas minhas tentativas pessoais de desbravar o deserto q apanhar as dunas mais altas, já atolei de pick up duas vezes, mas isso faz parte. Para quem gosta deste tipo de desportos motorizados aventura, este local é sem dúvida muito bom.








A rotina instala-se e começo a sentir o que é viver aqui. De vez em quando aparecem coisas ou pessoas que me fazem perceber que toda a gente está em todo o lado. Enquanto estava no edifício da Algerie Telecom para tratar da Internet, que demorou quase dois meses, ouço falar espanhol. O meu tradutor fica também espantado como é que aqui está um grupo de Cubanos e Mexicanos que trabalham na construção do Hospital na zona. O Pedro, logo me convida para o aniversário de um deles, e me pergunta baixinho se por acaso, eu bebo bebidas alcoólicas.
Rio-me!

Começo a perceber que este país, se mudar um pouco a mentalidade, poderá ser uma das potências mundiais em 30 anos. Têm tudo - Petróleo, gás natural, potencial enorme para vários tipos de turismo, mão de obra e vontade.