04/07/2010

Terminei

Informo que terminei esta estadia por terras argelinas.

Outras aventuras virão,

Bjs
e
Abs

Salam

26/11/2009

One, Two, Three....Viva la Algerie!

Este é um grito de um povo em êxtase por se ter apurado para o Mundial de Futebol de 2010 na África do Sul. Há 24 anos que não se apuravam, e ainda por cima, com uma vitória sobre um eterno rival, o Egipto. Na rua a loucura dura há uma semana. Começou antes do jogo e após 3 dias do apito final ainda ouço as buzinas desalmadas na rua. Senti que esta ocasião era de facto de especial para este país, ultrapassando mesmo os limites futebolísticos e entrado no campo político e empresarial. Por isso decidi ir contra todos os conselhos que tinha, e desloquei-me a um ecrã no centro de El Oued para acompanhar o jogo “mata-mata” com o Egipto. Um ambiente tenso, e facilmente inflamavél.! Queria apenas observar as pessoas e aqueles ares apreensivos num país que parou totalmente por causa do jogo. Bastava-me presenciar um golo. E aconteceu. Foi golo da Argélia e não tenho palavras para descrever a felicidade daquelas pessoas. São festejos totalmente puros, a roçar os primatas! São brutos. Estou em África e não me posso esquecer disso. No Sudão, local do jogo escolhido por sorteio, há pessoas no estádio que desmaiam enquanto no Egipto outras morrem e em Argel empresas egípcias são queimadas. O ódio pelos egípcios é evidente. Vi bandeiras a serem queimadas no meu rua, e soube que todos os expatriados egípcios na Argélia tiveram de ser evacuados. Na rua, toda a gente celebra. Eu também - Não vão eles pensarem que sou do país das pirâmides!
Ir trabalhar no dia seguinte, foi uma aventura. Parece que declararam feriado nacional e as pessoas bloquearam as estradas não deixando ninguém passar. Até as mulheres estão na rua o que para mim, já é sinónimo de festa! Tudo está decorado de verde e branco. O orgulho argelino está alto. Nas ruas as crianças saltam para dentro do meu carro como se fosse um transporte público. São tantos que parecem as moscas que me massacraram durante o verão. Berram desalmadamente o “one, tow, fee…viva l´Algerie”, com uma pronúncia cómica. Para a maior parte deles, estas foram as primeiras palavras em inglês que alguma vez falaram…
Para mim este jogo de futebol foi o culminar de um dia totalmente sahariano que acabara de passar. Tinha sido convidado para um churrasco e por isso passei o almoço comer camelo com as mãos e no chão, a fumar chissa, a beber o chã do Sahara, e até a cozer algo, que eles chamam de “mellá”, debaixo da areia aproveitando o calor da fogueira. - Pode parecer porco ou até desconfortável, mas o “le petit Chameaux” foi das melhores carnes que alguma vez provei…
Imagino este país ou estas pessoas caso tivessem sido derrotados… Haveria problemas quase decerteza. E pior.
Aguardamos agora pelo sorteio dos jogos do mundial, esperando para bem de muita gente que a Argélia não tenha a sorte (ou azar) de ficar no grupo da França - Aí sim, há problemas sérios....

Fui à Tunisia!!! Mas pouco tempo....

Depois de várias tentativas e através da melhor invenção deste século, a internet, facilmente consegui sair da Argélia, cruzar a Tunísia, apanhar um barco e chegar à ponta mais extrema de uma ilha mediterrânica no sudeste tunisino, a Ilha de Djerba..
Demoramos cerca de 07 horas, mas podia ter demorado menos não fosse a eficiente duane argelina ou estarmos na altura mais difícil do ano para o mundo árabe - o Ramadão.. Espero algumas horas sentado num banco de madeira antigo para que me carimbem o passaporte e confiram os documentos, enquanto constato que têm passado por aqui inúmeras excursões de europeus a avaliar pelos autocolantes de empresas ou grupos que estão nas paredes gastas do edifício.

Lá passamos a fronteira e fomos até Tozeur onde estaria o nosso Ford Fiesta à espera para seguirmos estrada fora até Gabes na costa Tunisina. A parte inicial da estrada é a mais impressionante e a razão principal que me fez escrever alguma coisa sobre interior tunisino. Começa no oásis em Tozeur e termina em Nagga. É uma recta sempre igual sem absolutamente nada à volta, excepto, sal. Sim, são mesmo 110 km em que a única coisa que vejo é sal. A pouca água do lago Chott El Jerid evapora e a secura deixa transparecer a esbranquiçado sal tornando o visual único e inóspito. Está tudo branco. É uma planície totalmente plana e tão grande que parece que pousaram um espelho baço sobre a terra. Parece até que céu está mais perto ou flutua. Distingo a linha do horizonte porque as nuvens parecem estar pousadas no fundo. O visual é espantoso, tem a cor de leite, e tenho a sorte de passar nesta zona às horas que o sol se estar a pôr. A teoria de origem de todo este sal é a mesma que se aplica aos Salares na Bolívia ou no Chile, por exemplo, o Salar de Atacama. Neste caso, o oceano que aqui existiu posteriormente sumiu, foi o mediterrâneo, deixando apenas o salitre, e o panorama excepcional de um lago situado a 16 metros abaixo do nível do mar.
As cores que se formam, a forma harmónica que as nuvens baixas têm, a profundidade do campo de visão e os reflexos provocados pelo branco salgado, logo me fizeram explorar as várias opções manuais da minha nova máquina fotográfica que finalmente, comprei.

A viagem continuou sem problemas até Gabes cruzando populações um pouco mais limpas e evoluídas que as argelinas e, quando menos se espera, em nenhures, observo transformadores da EFACEC.

Após atravessar o ferryboat para a Ilha de Djerba, era tempo de procurar La Fidele, o Club Med que optei escolher para passar o fim-de-semana.
Do fim de semana nada posso adiantar que vos interesse. Não estava no Magreb. Definitivamente estava na Europa, mais propriamente em França, na Suiça ou na Bélgica. Escolhi o melhor local que poderia ter escolhido em toda a ilha para descomprimir. La Fidele é conhecido por atrair jovens europeus e sua animação. A praia é boa, a água do mar é quente, e o ambiente é interessante. Confirmo, e recomendo! A quantidade de gente bonita que vi, fez me perceber os milhões que o estado tunisino tem investido no seu turismo, são valiosos e merecidos. Mais um local por explorar! Aconselho.

O regresso foi normal excepto aquela cáfila de dromedários que vagarosamente passava na estrada. Às 19.00h é que é as coisas se tornam mais complicadas. Esta é a hora que o mundo muçulmano pára, pois é tempo de se sentar à mesa. Para quem não sabe, no Ramadão enquanto houver luz do dia não se pode comer, fumar, beber, nada! Só mesmo respirar. Passei praticamente o Ramadão todo aqui, e desde já adianto, que é uma experiência, no mínimo, diferente. Toda a rotina do país é alterada em função da alimentação, da reza e da lua. Todos os serviços abrem e fecham a horas estranhas e às 04.00h a cidade já tem movimento de hora de ponta, enquanto por exemplo, às 14.00h, não se vê uma alma viva na rua. Tem a duração de um mês e só termina assim que a lua nova o determinar, nunca se sabendo o dia exacto. E quem decide? Existem uns observadores de lua que o decidem anunciando publicamente o dia, começando assim a festa durante dois dias seguidos. O país fica doido.

Nesta viagem de regresso da Tunísia, chego à fronteira tunisina foi às 18.50h. Com a fome a apertar, os policiais tunisinos despacharam tudo em 10 minutos enquanto na fronteira argelina chegamos precisamente na hora de “manger”. Garanto-vos que nossa presença ali era inexistente aos olhos deles. Senti-me um camaleão. A esta hora não vale a pena. Temos que esperar seja para que o for. O nosso chaffeur, mal a luz do dia começa a dissipar, come duas bananas em 10 segundos com uma vontade tal que me deixou espantado para não dizer enojado.
De resto, a viagem continuou até El Oued sem problemas, com aquela musica árabe aos berros.
Poderia falar de muitos episódios que fui tendo durante o Ramadão, mas ficará para uma próxima.
Para já só queria deixar escrito que, finalmente consegui ir à Tunísia!

A minha ausêcia

Queria apenas pedir desculpa pela minha ausência. Houve férias pelo meio, houve idas e voltas a Portugal e, principalmente, avarias no computador, que não me permitiram escrever. Parece que afinal, há bastante gente que lê estas coisas insignificantes....

Deixo para já, uma frase de livro “No teu deserto” de MST, que li, sobre precisamente, local por onde tenho andado, aliás vivido....Esse sim, é um romântico:
"Hoje em dia já ninguém vai ao deserto. Os fundamentalistas islâmicos, como os de Laghouat tornaram-se sanguinários e incontroláveis, e mesmo os próprios tuaregues revoltaram-se contra o poder de Argel ....Mas a razão principal não é essa: A razão principal é que já não há muita gente que tenha tempo a perder com o deserto. Não sabem para que serve e, quando me perguntam o que lá e eu respondo "nada", eles riscam automaticamente essa viagem dos seus projectos. Viajam antes em massa para onde toda a gente vai e todos se encontram"....”Todos têm medo do terror do silêncio e da solidão e vivem bombardeados de telefonemas, emails, facebooks, sms, etc....." ..”Falam sem cessar em vez de se encontrarem”…”É por isso que vivem esta estranha vida ,pois embora julguem ter o mundo aos seus pés, não aguentam um dia de solidão

Pois então fiquem a saber que nem toda a gente pensa assim: No próximo mês irei ter visitas e aproveitarei para ir até Tamarasset, no sul do Sahara argelino, na fronteira com o Mali e Niger, onde dizem estar um dos lugares mais inóspitos do planeta - Vulcôes no deserto - umas das unicas zonas desérticas que é vulcanica!